Famílias cobram justiça após mortes em abordagens policiais no RS

  • 07/07/2025
(Foto: Reprodução)
Casos em Santa Maria, São Gabriel e Porto Alegre envolvem ações de policiais militares que resultaram em mortes. Investigações estão em andamento e familiares pedem mudanças no sistema de segurança. Valdemar Both, Gabriel Cavalheiro e Vladimir de Oliveira teriam sido vítimas de violência policial. Arquivo pessoal A morte do agricultor Valdemar Both, de 54 anos, após uma ocorrência de suposto crime ambiental em sua propriedade rural no interior de Santa Maria, gerou revolta na família e protestos na cidade. Valdemar foi atingido por dois tiros, um deles fatal, durante a abordagem de três policiais militares. O agricultor cortava lenha em um galpão quando os PMs chegaram. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp Segundo a Brigada Militar, ele estaria com um machado e teria reagido à abordagem. Gabriel, filho da vítima, afirma que o pai não teve chance de se defender e questionou o uso da força. "Deu tempo de ele se virar e cair aqui, foram três disparos, então não teve chance. Eu conheço meu pai, e eu sei das coisas que ele é capaz de fazer, e tenho certeza que de certa forma foi um uso excessivo, três disparos, ainda mais na região superior do corpo", declara Gabriel. A Brigada Militar abriu um inquérito para apurar os fatos, enquanto os policiais envolvidos estão afastados e cumprem funções administrativas. No fim de semana, moradores protestaram em frente ao Batalhão Ambiental. O responsável pelo Comando Ambiental da Brigada Militar, coronel Rodrigo Gonçalves dos Santos, afirma que, mesmo que os policiais estivessem com armas menos letais, isso não os obrigaria a usá-las. "Se eu estou sob grave ameaça, iminência e risco à minha vida, muito provavelmente os policiais teriam que partir de pronto para uma reação letal. E foi o que foi feito, até então a gente está entendendo isso", relata o comandante. Um decreto federal do final de 2024, que regula esse tipo de situação no Brasil, deixa claro que a força só deve ser utilizada caso outras formas mais leves não funcionarem, e que a arma de fogo é a última opção. Além disso, determina que sempre que o uso da força resultar em ferimento ou morte, a ocorrência deve ser detalhada. O advogado Maurício Custódio, que representa um dos PMs envolvidos, defende a conduta dos policiais como legítima defesa. “É muito claro aquilo que já se apurou inicialmente, o comportamento da legítima defesa é uma excludente que está muito clara na imagem, embora a gente entenda que as investigações tenham que ocorrer", afirma. Outro caso é o de Gabriel Marques Cavalheiro, morto após abordagem da PM em São Gabriel, em 2022. Ele foi algemado, colocado no porta-malas de uma viatura e encontrado morto uma semana depois. O laudo apontou espancamento com cassetete e ausência de água nos pulmões, indicando que já estava morto ao ser jogado em um açude. Três PMs estão presos preventivamente, acusados de homicídio triplamente qualificado. "Tiraram ele de mim, tiraram ele da minha mulher, tiraram ele da minha família. Então é um luto eterno que a gente vive. Todo dia tem uma lembrança dele, todo dia acontece uma coisa que lembra ele", afirma Anderson Cavalheiro, pai da vítima. Estão presos preventivamente os PMs Arleu Júnior Cardoso Jacobsen, Cleber Renato Ramos de Lima e Raul Veras Pedroso. Eles respondem por homicídio triplamente qualificado e aguardam a decisão da justiça para saber se vão a júri ou não. Maurício Custódio também atua na defesa de um dos PMs deste caso. Ele afirma que o sargento Arleu Jacobsen está preso há quase três anos por um crime que não cometeu. Na Justiça Militar, os PMs foram absolvidos da acusação de ocultação de cadáver porque sustentam que deixaram o jovem vivo na comunidade Lava Pés na viatura que conduziam. Apenas o policial Cleber de Lima foi responsabilizado por falsidade ideológica no registro policial. Em Porto Alegre, outra abordagem policial também resultou em morte. Vladimir Abreu de Oliveira, de 41 anos, morava no condomínio Princesa Isabel, em Porto Alegre. Segundo a denúncia, ele foi torturado e morto por policiais militares e seu corpo foi jogado da Ponte do Guaíba, em maio de 2024. Os quatro réus foram presos mas, agora, respondem em liberdade e devem ir a júri. LEIA TAMBÉM: 'Os policiais fuzilaram o pai', conta filho à mulher de agricultor morto no RS Polícia investiga desaparecimento de jovem após abordagem da Brigada Militar em São Gabriel Justiça decide que PMs réus por torturar, matar e jogar homem da Ponte do Guaíba vão a júri em Porto Alegre Os familiares das vítimas cobram mudanças nas abordagens policiais, como o uso obrigatório de câmeras corporais e melhor treinamento. Para o professor Eduardo Pazinato, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os policiais devem estar equipados com instrumentos de menor letalidade. "A regra é não atirar. Se atirar, não atirar em partes letais do corpo. Acontece que esse juízo é feito pelo policial. Esse é o juízo de discricionariedade que o policial faz analisando a situação fática que ele está envolvido, ou seja, garantindo a sua proteção e a proteção da sociedade e aí ele vai fazer emprego também proporcionalmente à agressão que recebeu", afirma o professor. Segundo o Anuário da Segurança Pública, o Rio Grande do Sul ocupa o 19º lugar no ranking nacional de mortes por intervenção policial, com taxa de 1,4 mortes por 100 mil habitantes. O número cresceu 40,6% entre 2022 e 2023. Atualmente, apenas policiais de Porto Alegre utilizam câmeras corporais — são 910. A Secretaria da Segurança Pública planeja expandir o uso para o interior do estado. "Eles não querem essas câmeras corporais porque é incriminar eles. Brigadiano, policial do bem, não vai fazer diferença de ter ou não ter câmera. Aqueles que não querem são aqueles que fazem coisa errada. Então isso aí com certeza vai ser um benéfico para todo mundo da sociedade. Não só para mim, para as minhas netas que estão crescendo, para futuramente", afirma Anderson Cavalheiro. VÍDEOS: Tudo sobre o RS

FONTE: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2025/07/07/familias-cobram-justica-apos-mortes-em-abordagens-policiais-no-rs.ghtml


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